INOCÊNCIA - Visconde de Taunay (Resumo)
Sertão de Santana do Paranaíba, 1860.
Pereira ( Martinho dos Santos Pereira ) vive na fazenda com Inocência, sua
filha de 18 anos. Seu pai exige-lhe obediência total, num regime antigo e
educada longe do mundo. Escolhe para ela o noivo, Manecão, um homem criado no
sertão bruto, de índole violenta.
Maria Conga é uma preta, escrava de
Pereira. Tico é o guarda da moça Inocência, bastante fiel apesar de ser mudo.
Um dia, Pereira encontrou-se com um rapaz que percorria os caminhos do sertão a
medicar. Havia feitos estudos no colégio do Caraça e iniciado Farmácia em Ouro
Preto. Chamavam-no de "doutor", título que não menosprezava. Seu nome
era Cirino Ferreira dos Santos ( Dr. Cirino ).
Inocência estava doente de "uma
febre braba" e o "doutor" curou-a . Os dois apaixonaram-se mais
tarde: eram demasiados os cuidados que o "doutor" tinha para com ela.
Amavam-se às escondidas e o laranjal era local de encontros proibidos. Pensavam
que ninguém poderiam desconfiar... mas Tico, o anãozinho mudo, estava atento...
Nesse ínterim, Pereira andava é desconfiado do Dr. Meyer, um caçador de
borboletas, que por lá aparecera!
Desconfiava a tal ponto que o ilustre
entomólogo passou a ser "persona non grata". Dr. Meyer tinha por
objetivo descobrir espécimes novos para museus europeus. Respeitava com muito
carinho e muita atenção a bonita Inocência. José Pinho (Juque), ajudante de Dr.
Meyer, explicava a função de seu patrão: procurar insetos. E isso durante quase
dois anos...
Garcia, leproso, aparece na fazenda do
Sr. Pereira. Quer falar com Dr. Cirino. O "médico" diz-lhe que a
doença e incurável e contagiosa.
Inocência foi maltratada pelo pai,
quando este soube de seu amor com o doutor. Foi atirada contra a parede.
Resistiu e jurou não se casar com Manecão, o sertanejo violento. Mas o pai –
Sr. Pereira – achou que a filha estava de "mau olhado", por causa do
Dr. Meyer.
E encontrou uma solução: ele ou Manecão
mataria o intruso alemão. Dr. Meyer não deu ouvidos a Pereira, zombado de sua
ameaça. Tomou-se de vergonha: era ofensa demais. Tico, após testemunhar o amor
existente entre Inocência e Cirino, explicou ao Sr. Pereira tudo que se
passava...
Manecão começou a seguir os passos de
Cirino. Até um dia interpelou-o . Tirou uma garrucha da cintura e... Cirino
caiu por terra, pedindo água e sussurrando o nome de Inocência. Agonizante,
exigia do mineiro Antônio Cesário que não deixasse Inocência casar-se com
Manecão...
Dr. Guilherme Tembel Meyer, em 1863,
apresentava aos entomólogos do mundo a sua mais recente descoberta: uma
borboleta até então desconhecida: "Papilio Innocentia:" em homenagem
à Inocência, a moça do sertão de Santana do Paranaíba, da Parte sul oriental do
Mato Grosso.
Inocência, coitadinha...
Exatamente nesse dia dois anos faria
que seu gentil corpo fora entregue à terra, no intenso sertão de Santana do
Parnaíba, para dormir o sono da eternidade...
CARACTERIZAÇÃO DOS
PERSONAGENS:
Martinho dos Santos Pereira (Pereira) –
Homem de mais ou menos 45 anos, gordo, bem disposto, cabelos brancos, rosto
expressivo e franco. Pessoa honesta, hospitaleiro, severo e não trocava a sua
palavra nem pela vida.
Inocência – Cabelos longos e pretos,
nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas,
cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado. Enfim, uma jovem
de beleza deslumbrante e incomparável.Simples, humilde, meiga, carinhosa,
indefesa e eternamente apaixonada.
Tico – O anão guardião de Inocência.
Mudo, raquítico, esperto e fez por um momento, o papel de fofoqueiro.
Maria Conga – Escrava de Pereira que
cuidava dos afazeres domésticos. Escura, idosa e malvestida. Usava na cabeça um
pano branco de algodão.
Major Martinho de Melo Taques – Homem
que merecia influência na vila de Santana do Parnaíba: Juiz de paz e servia de
juiz municipal. Participou da Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul. Era
comerciante e gostava de contar casos, ou seja, "prosear".
Manecão – alto, forte, pançudo e usava
bigode. Enfim, vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que matava, se fosse
preciso, em defesa de sua honra.
Antônio Cesário – Padrinho de
Inocência. Homem respeitado, de palavra, honesto e justo. Fazendeiro do sertão.
Guilherme Tembel Meyer – alto, rosto
redondo, juvenil, olhos claros, nariz pequeno e arrebitado, barbas compridas,
escorrido bigode e cabelos muito louros. Pessoa de boa ídolo, esperto em sua
função e simples ao pronunciar as sua palavras. Admirador da natureza e da
beleza de Inocência.
José Pinho (Juque) – Ajudante de Meyer.
Era muito intrometido em conversas alheias. Pessoa boa e de confiança de seu
patrão.
Cirino Ferreira Campos – Tinha mais ou
menos 25 anos, presença agradável, olhos negros e bem rasgados, barbas e
cabelos cortados quase à escovinha. Era tão inteligente quanto decidido.
"Doutor" Cirino era caridoso, bom doava a própria vida em defesa do
amor.
COMPONENTES DA OBRA:
O romance relata a vida do povo do
sertão brasileiro. O autor nos mostra de forma nem clara, a simplicidade, o
sofrimento e o jeito típico do sertanejo, através de seus personagens.
Sofrimento – A caminhada do sertanejo
em busca de seus objetivos através de longas distâncias, sendo que no percurso,
existe a dificuldade do abrigo.
Simplicidade – É claramente observada através do comportamento e diálogos entre as personagens típicas.
Contradições – Comprava-se entre o jeito de ser do sertão e a forma avançada da Europa (Pereira e Meyer).
Amor – Um amor tão puro e verdadeiro que por falta de condições de existência preferiu a morte, ou pelo menos, foram levados a ela.
Honra – Pereira para manter a honra familiar, sacrificava sua própria filha, já que sua palavra estava acima de tudo.
Beleza – É retratada através da paisagem do sertão e da jovem Inocência.
Escravidão – ë representada por Maria Conga e outros.
MOMENTO LITERÁRIO
Inocência pode ser considerada a obra
prima do romance regionalista (Sertão do Mato Grosso) do nosso Romantismo. Seu
autor, Visconde de Taunay, soube unir ao seu conhecimento prático do país,
adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, o seu agudo senso de
observação da natureza e da vida social do Sertão brasileiro.
A qualidade de Inocência resulta do
equilíbrio alcançado entre os aspectos ligados ao conceito de verossimilhança –
que muitas vezes chegava a comprometer a qualidade de obras regionalistas –,
como a tensão entre ficção e realidade, a linguagem culta e a linguagem
regional e a adequação dos valores românticos à realidade bruta do nosso
Sertão.
Inocência é uma história de amor
impossível, envolvendo Cirino, prático de Farmácia que se autopromoveu médico,
e Inocência, uma jovem do Sertão de Mato Grosso, filha de Pereira, pequeno
proprietário típico da mentalidade vigente entre os habitantes daquela região.
A realização amorosa entre os jovens é
invisível porque Inocência fora prometida em casamento pelo pai de Manecão, um
rústico vaqueiro da região; e também porque Pereira exerce for vigilância sobre
a filha, pois, de acordo com seus valores, ele tem de garantir a integridade de
Inocência até o dia do casamento.
Ao lado dos acontecimentos, que constituem
a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um
naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira à procura de borboletas,
evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio urbano
europeu.
A atração pelo pitoresco e o desejo de
explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor romântico se
interessar pela vida e hábitos das populações que viviam destante das cidades.
Abria-se assim, para o Romantismo, o campo fecundo do romance sertanejo, que até
hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura.
MOMENTO HISTÓRICO
Na época em que o autor se inspirava
para escrever Inocência, acontecia no país a aprovação da Lei do Ventre Livre,
onde todos os filhos de negros que nascessem à partir daquela data seria livre
da escravidão brasileira.
Por: Paulo Alexandre Lobato
Análise
da obra
Taunay tinha um agudo senso de observação e análise, aliado a uma vivência riquíssima da paisagem e da História do Brasil. Foi um dos primeiros prosadores brasileiros a emprestar a linguagem coloquial regional em suas obras.
Na época em que o autor se inspirava para escrever Inocência, publicado em 1872, acontecia no país a aprovação da Lei do Ventre Livre, onde todos os filhos de negros que nascessem à partir daquela data seria livre da escravidão brasileira.
É notável como o narrador nos apresenta o choque de duas concepções de mundo extremamente diversas. Pereira, homem do sertão, preso a padrões estritos de comportamento, mantém sua bela filha Inocência reclusa.
O autor conta com franqueza seu relacionamento com uma jovem que conheceu no Mato Grosso, a partir dai percebemos a origem mais íntima da personagem-título de Inocência, protótipo da mulher sertaneja imaginada pelo autor.
Foi um autor além da maioria dos romancistas, entre os quais se incluíam alguns que, embora também usassem temas sertanistas, não tinham realmente muita experiência do interior brasileiro. Taunay, ao contrário, escrevia sobre o que conhecera. Aliás o próprio Taunay se manifestou sobre isso, embora não diminuísse de modo algum a importância e o valor dos outros romancistas.
Nesse romance, o rigor do observador militar que percorreu os sertões mistura-se à capacidade imaginativa do ficcionista. O resultado é um belo equilíbrio entre a ficção e a realidade, raramente alcançado na literatura brasileira até então.
São trinta capítulos e um epílogo, em que poucos personagens se movem. Esses personagens podem ser agrupados de acordo com a posição que lhes caberá no desenrolar da obra.
Inocência pode ser considerada a obra-prima do romance regionalista (Sertão do Mato Grosso) do nosso Romantismo. Seu autor, Visconde de Taunay, soube unir ao seu conhecimento prático do país, adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, o seu agudo senso de observação da natureza e da vida social do Sertão brasileiro.
A qualidade de Inocência resulta do equilíbrio alcançado entre os aspectos ligados ao conceito de verossimilhança – que muitas vezes chegava a comprometer a qualidade de obras regionalistas –, como a tensão entre ficção e realidade, a linguagem culta e a linguagem regional e a adequação dos valores românticos à realidade bruta do nosso Sertão.
Ao lado dos acontecimentos, que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira à procura de borboletas, evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu.
A atração pelo pitoresco
e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor
romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam destante
das cidades. Abria-se assim, para o Romantismo, o campo fecundo do romance
sertanejo, que até hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura.
Aspectos temáticos
Aspectos temáticos
Sofrimento – A caminhada do sertanejo em busca de seus objetivos através de longas distâncias, sendo que no percurso, existe a dificuldade do abrigo.
Simplicidade – É claramente observada através do comportamento e diálogos entre as personagens típicas.
Contradições – Comprava-se entre o jeito de ser do sertão e a forma avançada da Europa (Pereira e Meyer).
Amor impossível – Um amor tão puro e verdadeiro que por falta de condições de existência preferiu a morte, ou pelo menos, foram levados a ela.
Honra – Pereira para manter a honra familiar,
sacrificava sua própria filha, já que sua palavra estava acima de tudo.
Beleza – É retratada através da paisagem do sertão e da jovem Inocência.
Beleza – É retratada através da paisagem do sertão e da jovem Inocência.
Escravidão – é representada por Maria Conga e outros.
O romance é ambientado na confluência dos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e São Paulo.
Foco
narrativo
O ponto de vista externo
define o narrador de Inocência como um narrador onisciente, que é tendência
dominante na narrativa romanesca do século XIX. É o modelo clássico, que
confere plenos poderes a uma só focalização: tudo é apresentado a partir de um
único ponto, com onisciência e onipresença. Esse é, sem dúvida, um modelo
narrativo que atende às necessidades do romance regionalista, que focaliza a
vida, os costumes, os valores sociais a partir de um único ponto de vista.
Personagens
Inocência: Tem uma grande beleza e delicadeza de traços, nem parece moça do sertão. Isso vai ser fundamental no despertar da paixão entre ela e Cirino e também na compreensão da atitude que ela irá tomar posteriormente, afinal, de alguma forma, ela não era uma típica moça do sertão. Essas características são importantes para a compreensão do desenrolar da história. Inocência tem cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado. Enfim, uma jovem de beleza deslumbrante e incomparável. Simples, humilde, meiga, carinhosa, indefesa e eternamente apaixonada.
Inocência: Tem uma grande beleza e delicadeza de traços, nem parece moça do sertão. Isso vai ser fundamental no despertar da paixão entre ela e Cirino e também na compreensão da atitude que ela irá tomar posteriormente, afinal, de alguma forma, ela não era uma típica moça do sertão. Essas características são importantes para a compreensão do desenrolar da história. Inocência tem cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado. Enfim, uma jovem de beleza deslumbrante e incomparável. Simples, humilde, meiga, carinhosa, indefesa e eternamente apaixonada.
Cirino
Ferreira de Campos: prático
de farmácia, autopromovido a médico ambulante. Tinha mais ou menos 25 anos,
presença agradável, olhos negros e bem rasgados, barbas e cabelos cortados
quase à escovinha. Era tão inteligente quanto decidido. "Doutor"
Cirino era caridoso, bom doava a própria vida em defesa do amor.
Manecão: Homem rude, mas decente, trabalhador, sério e acumulou fortuna, era dotado também de uma certa macheza. Alto, forte, pançudo e usava bigode. Enfim, vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que matava, se fosse preciso, em defesa de sua honra.
Manecão: Homem rude, mas decente, trabalhador, sério e acumulou fortuna, era dotado também de uma certa macheza. Alto, forte, pançudo e usava bigode. Enfim, vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que matava, se fosse preciso, em defesa de sua honra.
Martinho
dos Santos Pereira (Pereira): Homem de
mais ou menos 45 anos, gordo, bem disposto, cabelos brancos, rosto expressivo e
franco. Pessoa honesta, hospitaleiro, severo e não trocava a sua palavra nem
pela vida. Condensa em si desconfiança e ingenuidade, além de ser durão e
conservador.
Tico: Anão que vivia na fazenda, mudo, mas que
foi capaz de entregar lnocência ao pai. Ele a vigiava e detinha profundo
respeito e admiração pela mesma. Guardião de Inocência. Mudo, raquítico,
esperto e fez por um momento, o papel de fofoqueiro.
Meyer: Um naturalista, que teve a sinceridade de
elogiar Inocência, acabou por ser vigiado por Pereira, mas era muito dedicado a
profissão que exercia, portanto viajava muito.
Maria
Conga: Escrava
de Pereira que cuidava dos afazeres domésticos. Escura, idosa e malvestida.
Usava na cabeça um pano branco de algodão.
Major
Martinho de Melo Taques: Homem
que merecia influência na vila de Santana do Parnaíba: Juiz de paz e servia de
juiz municipal. Participou da Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul. Era
comerciante e gostava de contar casos, ou seja, "prosear".
Antônio
Cesário: Padrinho
de Inocência. Homem respeitado, de palavra, honesto e justo. Fazendeiro do
sertão.
Guilherme Tembel Meyer: Alto, rosto redondo, juvenil, olhos claros, nariz pequeno e arrebitado, barbas compridas, escorrido bigode e cabelos muito louros. Pessoa de boa índole, esperto em sua função e simples ao pronunciar as sua palavras. Admirador da natureza e da beleza de Inocência.
Guilherme Tembel Meyer: Alto, rosto redondo, juvenil, olhos claros, nariz pequeno e arrebitado, barbas compridas, escorrido bigode e cabelos muito louros. Pessoa de boa índole, esperto em sua função e simples ao pronunciar as sua palavras. Admirador da natureza e da beleza de Inocência.
José
Pinho (Juque): Ajudante
de Meyer. Era muito intrometido em conversas alheias. Pessoa boa e de confiança
de seu patrão.
Enredo
O acaso no meio do caminho
O acaso no meio do caminho
Cirino não tinha um
destino certo quando enveredou pela estrada que ligava a vila de Santana do
Parnaíba aos campos de Camapuã, sul da província de Mato Grosso, fronteira de
Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Sua única certeza é que devia seguir “curando
maleitas e feridas brabas”(p.22), em lugares esquecidos, no sertão. Era
igualmente levado pelo desejo de conhecer terras novas, lugares perdidos nos
mais diversos pontos do interior da província. Por isso, não hesitou em
acompanhar o falante Sr. Pereira, que, seguindo o mesmo caminho, voltava para
casa depois da frustrada tentativa de conseguir remédio para a filha doente. O
encontro casual com Cirino lhe trouxe não apenas um parceiro de prosa, mas
também o remédio que procurava.
Apesar da gravidade da doença, o Sr. Pereira demorou-se em conduzir o médico até o quarto da filha.
Apesar da gravidade da doença, o Sr. Pereira demorou-se em conduzir o médico até o quarto da filha.
Hospitaleiro, ofereceu a
Cirino comida farta e pouso. Depois, com muita hesitação, dirigiu-se ao médico
em sinal de alerta:
- Sr. Cirino, eu cá sou
homem muito bom de gênio, muito amigo de todos, muito acomodado e que tenho o
coração perto da boca, como vosmecê deve ter visto...
- Por certo, concordou o
outro.
- Pois bem, mas... tenho
um grande defeito; sou muito desconfiado. Vai o doutor entrar no interior da
minha casa e... deve portar-se como... (p.35)
Martinho dos Santos
Pereira vivia só, com a filha, no mais calado sertão. Guardava a jovem dos
olhos dos viajantes, pois já havia dado sua palavra que Inocência seria mulher
do tropeiro Manecão, que viajava negociando gado e cuidado dos papéis para o
casamento. Era grande a responsabilidade de Pereira, já que, no seu entender,
as mulheres eram frágeis, inconstantes e incapazes de seguir leis da razão.
Para ele, todos os homens representavam um grande risco à sua doce e bela
Nocência. Seus cuidados faziam-se ainda maiores porque Inocência era dotada de
beleza incomum. Por isso, Pereira dividia com Tico, um anão mudo, a tarefa de
guardar a filha. - Orgulhava-se o homúnculo de ser “uma espécie de cachorro de
Nocência” (p.41).
Contudo, quando Cirino
entra no quarto escuro para examinar Inocência e, com a ajuda de uma vela, vê a
moça, fica profundamente desconcertado. Mesmo doente, a jovem demonstrava uma
beleza impressionante.
Na mesma noite da chegada de Cirino, um naturalista alemão, Meyer, e seu camarada, pedem abrigo na fazenda de Pereira. O entomologista trazia uma coleção de insetos e muitas cartas de recomendação. Entre elas, uma, assinada por Francisco dos Santos Pereira, irmão esquecido do Sr. Pereira. Esse feliz acaso foi suficiente para o bom matuto perder a cabeça de alegria e se colocar totalmente à disposição do alemão. “Esta carta vale, para mim, mais que uma letra do Imperador que governa o Brasil” (p.59), diz, emocionado, o matuto. Como prova de sua satisfação, promete apresentar-lhe a filha Inocência assim que ela se recupere.
Os remédios de Cirino logo trazem a saúde de volta ao corpo de Inocência e, com ela, os traços vitais de sua beleza.
Um dia, após o almoço na casa de Pereira, Inocência é apresentada a Meyer. Diferentemente de Cirino, Meyer não consegue se controlar e faz muitos elogios a Inocência. Enquanto o alemão fala, enrolando a língua, Pereira e Cirino não conseguem disfarçar o mal-estar causado pelo discurso de Meyer. Um momento patético, que abala a todos.
Na mesma noite da chegada de Cirino, um naturalista alemão, Meyer, e seu camarada, pedem abrigo na fazenda de Pereira. O entomologista trazia uma coleção de insetos e muitas cartas de recomendação. Entre elas, uma, assinada por Francisco dos Santos Pereira, irmão esquecido do Sr. Pereira. Esse feliz acaso foi suficiente para o bom matuto perder a cabeça de alegria e se colocar totalmente à disposição do alemão. “Esta carta vale, para mim, mais que uma letra do Imperador que governa o Brasil” (p.59), diz, emocionado, o matuto. Como prova de sua satisfação, promete apresentar-lhe a filha Inocência assim que ela se recupere.
Os remédios de Cirino logo trazem a saúde de volta ao corpo de Inocência e, com ela, os traços vitais de sua beleza.
Um dia, após o almoço na casa de Pereira, Inocência é apresentada a Meyer. Diferentemente de Cirino, Meyer não consegue se controlar e faz muitos elogios a Inocência. Enquanto o alemão fala, enrolando a língua, Pereira e Cirino não conseguem disfarçar o mal-estar causado pelo discurso de Meyer. Um momento patético, que abala a todos.
Tornou-se Pereira pálido
[...]; Inocência enrubesceu quem nem uma romã; Cirino sentiu um movimento
impetuoso, misturado de estranheza e desespero, e, lá da sua pele de
tamanduá-bandeira, ergueu-se meio apavorado o anão. (p.65)
Sem poder voltar atrás
com sua palavra, Pereira enfiou na cabeça que Meyer queria se aproveitar de Inocência.
Passa a vigiar e a controlar os mínimos gestos e palavras de Meyer, deixando a
filha aos cuidados de Tico e do doutor.
Doutor
enfeitiçado sem remédio para seu mal
Cirino percebe
rapidamente que, à medida que cura Inocência, torna-se ele enfermo, acometido
pelo mal grave e incurável da paixão. Resolve retomar seu caminho, mas o bom
Pereira protesta. É que, quanto mais Pereira suspeitava de Meyer, mais confiava
em Cirino. Em nenhum momento percebe que o doutor está perdidamente apaixonado
por sua filha, embora o ache meio abatido às vezes. Para evitar que Cirino vá
embora, Pereira arranja-lhe muitos doentes. Quanto mais Cirino cura os males
alheios, mais se conscientiza de seu triste destino. Pereira jamais voltará
atrás com a palavra dada a Manecão e, para isso, gasta todo o seu tempo
embrenhado na mata com o naturalista, que vai aumentando, a cada dia, sua
coleção de espécies raras de insetos.
Num desses dias, como
fosse sair muito cedo com Meyer e Juca para a mata, Pereira encarrega Cirino de
medicar Inocência na hora certa. O doutor passa a manhã contando todos os
segundo até a hora de poder ver a moça.
Enquanto Tico vai chamar
a criada para preparar café, Cirino conversa apaixonadamente com Inocência.
Ainda que não se declare abertamente, dá mostras mais que evidentes de seu
sentimento. Inocência demonstra igualmente um certo envolvimento. Depois disso,
torna-se cada vez mais difícil para Cirino encontrar-se com ela.
Apesar do cerco fechado
em que vive a moça, Cirino, tomado pelo desespero, bate a sua janela numa noite
de luar e dá voz a sua paixão. Conversam os dois quase num sussurro e, sem
muito esforço, descobre que é amado por Inocência. A paixão já não é mais
segredo para eles.
O perigo
está muito perto
A ira de Pereira atinge o
grau máximo no dia em que Meyer, vasculhando a mata perto de seu roçado, cai em
grande euforia ao descobrir uma borboleta de uma espécie totalmente
desconhecida. Pulando “como um cabrito” (p.103), anuncia que dará o nome de
Inocência a seu achado. Pereira recebe a notícia como uma grande ofensa: “Vejam
só... o nome de Nocência numa bicharada!... Até parece mangação...” (p.104).
Depois do grande achado,
Meyer, exultante e vitorioso, decide partir, deixando Pereira duvidoso quanto
ao excesso de suas desconfianças:
- [...] Quem sabe se tudo
que eu parafusei não foi abusão cá da cachola? [...] Hoje estou convencido que
o tal alamão era bom e sincero... Olhou para a menina... achou-a bonitinha... e
disse aquele despotismo de asneiras sem ver a mal... Em pessoa que não guarda o
que pensa, é que os outros se podem fiar... Às vezes o perigo vem donde nunca
se esperou... (p.111-2).
E a vida de Pereira
retoma seu curso.
Sem nenhuma esperança,
Inocência e Cirno se encontram mais uma vez às escondidas. No laranjal, numa
noite de luar, pensam numa solução para suas vidas. Cirino propõe-lhe fuga.
Inocência recusa com medo de tornar uma mulher perdida, amaldiçoada pelo pai.
Diante do pranto de Cirino, Inocência lembra de seu padrinho Antônio Cesário.
Seu pai lhe devia dinheiro e respeitava sua vontade; se Cirino conseguisse
convencê-lo a falar com Pereira, talvez eles estivessem salvos. Enquanto se
abraçavam felizes e esperançosos, ouvem um assobio seguido de uma gargalhada.
Cirino pega Inocência nos braços e a leva para casa. Ao voltar ao laranjal,
sente algo cair sobre seus pés, pensa ser assombração. Aterrorizado, ouve um
tiro disparado por ordem de Pereira, que vistoriava o pomar junto com um
escravo. Cirino corre de volta para seu alojamento, aonde consegue chegar antes
de Pereira. Finge não saber de nada. Nesse mesmo dia, parte em busca da ajuda
de Antônio Cesário. Manecão retorna com os documentos prontos para o casamento.
Inocência se assusta quando o encontra. Enfrenta o pai e noivo, desafia a
palavra que tinha força de lei.
- Eu?... Casar com o senhor?! Antes uma boa morte!... Não quero... não quero... Nunca... Nunca...
- Eu?... Casar com o senhor?! Antes uma boa morte!... Não quero... não quero... Nunca... Nunca...
Manecão bambaleou.
Pereira quis pôr-se de
pé, mas por instantes não pôde.
- Está doida, balbuciou,
está doida.
E segurando-se à mesa,
ergueu-se terrível - Então, você não quer? Perguntou com os queixos a bater de
raiva. - Não, disse a moça com desespero, quero antes...
- Não pode terminar.
(p.138)
Com a ajuda de Tico, que
tudo sabia, o grande equívoco de Pereira é desfeito. Fulminado, mas não
liquidado. Pereira autoriza Manecão a lavar a honra de sua casa. O tropeiro
parte imediatamente.
Desfecho
Cirino, por sua vez, encontra Cesário e, com muita dificuldade, expõe a ele sua situação. Cesário, desconfiado, lhe faz muitas perguntas e, por fim, pede-lhe que faça um juramento. Cirino aceita imediatamente, e Cesário, impressionado com o caráter e os sentimentos nobres do moço, que jurara sem saber o quê, promete-lhe pensar durante oito dias. Se resolvesse ajudá-los, apareceria até o final desse período; caso contrário, valeria o juramento: Cirino deveria desaparecer de suas terras e da vida de Inocência.
No último dia do prazo combinado, Cirino espera ansiosamente ver Cesário quando depara com Manecão. Este lhe dirige algumas palavras desaforadas e, em seguida, pega sua arma e atira impiedosamente no rival. Cesário aparece. Cirino ainda tem tempo de perdoar seu algoz e de agradecer Cesário. Morre murmurando o nome de Inocência.
Cirino, por sua vez, encontra Cesário e, com muita dificuldade, expõe a ele sua situação. Cesário, desconfiado, lhe faz muitas perguntas e, por fim, pede-lhe que faça um juramento. Cirino aceita imediatamente, e Cesário, impressionado com o caráter e os sentimentos nobres do moço, que jurara sem saber o quê, promete-lhe pensar durante oito dias. Se resolvesse ajudá-los, apareceria até o final desse período; caso contrário, valeria o juramento: Cirino deveria desaparecer de suas terras e da vida de Inocência.
No último dia do prazo combinado, Cirino espera ansiosamente ver Cesário quando depara com Manecão. Este lhe dirige algumas palavras desaforadas e, em seguida, pega sua arma e atira impiedosamente no rival. Cesário aparece. Cirino ainda tem tempo de perdoar seu algoz e de agradecer Cesário. Morre murmurando o nome de Inocência.
O destino de Inocência é
revelado no último momento da história, quando Meyer apresenta sua coleção com
a espécie rara de borboleta à sociedade científica de seu país. Enquanto o
naturalista alemão fala euforicamente da jovem que dera o nome a seu achado, o
narrador comenta ironicamente que, havia dois anos, Inocência não existia mais.
O que se
pode observar na obra
É o romance sertanista
onde mais se percebe a divisão entre o enredo central - folhetinesco e
ultra-romântico - e as histórias secundárias, quase todas realistas.
Este mesmo descompasso é
visível entre o tom trágico da intriga amorosa e as passagens hilariantes das
tramas paralelas.
Apesar do excesso
melodramático final, os caracteres de Cirino e Inocência nos são mostrados de
forma muito mais verossímil que os personagens de outros romances românticos da
época.
Há uma forte crítica de
Taunay em relação ao implacável patriarcalismo do mundo rural. O curioso é que
durante quase toda a narrativa, o autor ironiza a visão machista, como nesta
cômica exposição de Pereira sobre o comportamento das mulheres: Eu
repito, isto de mulheres, não há que fiar. Bem faziam os nossos do tempo
antigo. As raparigas andavam direitinhas que nem um fuso... Uma piscadela de
olho mais duvidosa, era logo pau. (...) Cá no meu modo de pensar, entendo que
não se maltratem as coitadinhas, mas também é preciso não dar asas às
formigas...
No final do relato,
contudo, esta crítica amena e humorística transforma-se quase em um panfleto
contra o domínio absoluto que, dentro do código patriarcalista, os pais tinham
sobre os filhos.
Importante ressaltar que
o simplório Pereira, além de possuir boa índole, ama desesperadamente a filha.
Portanto, também ele nos é mostrado como vítima dos costumes patriarcais.
Meyer, o naturalista
alemão, sábio das coisas da ciência, porém incapaz de perceber a estreiteza
moral do mundo em que está metido, é um dos protagonistas mais engraçados da
ficção brasileira do século XIX. Suas trapalhadas são impagáveis.
O romance apresenta uma
curiosa mescla de linguagem culta urbana e termos regionais (arcaísmos,
corruptelas, provérbios, expressões típicas). Estes "regionalismos",
na sua maioria, são explicados pelo próprio autor, em notas ao pé das páginas.
O resultado dessa junção é uma prosa bastante viva, colorida e com acentos
humorísticos na sua formulação.
Olá! Meu nome é Fellipe, trabalho para o site Mundo Vestibular. Existe um email para eu poder entrar em contato? Obrigado
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