segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Dona Guidinha do Poço


Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva


    Obra do autor cearense Manuel de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço resgata elementos da cultura nordestina e pormenores da vida interiorana, na história de uma mendiga que, no final do século XIX, era alvo de piadas nas ruas, por ter sido condenada pela Justiça de Quixeramobim pelo assassinato do próprio marido. A tragédia inclui elementos de vingança, prisões e mortes.
    É a saga da fazendeira Marica Lessa. Essa via foi devassada pelo historiador Ismael Por deus que teve acesso em cartório de Quixeramobim, ao processo em que a poderosa fazendeira Marica Lessa respondeu pelo assassinato de seu marido o Cel. Domingos d´Abreu e Vasconcelos por volta de 1853. A fazendeira poderosa amasiou-se com um sobrinho do marido, Senhorinho Pereira, e contratou o executante do crime contra seu consorte. Descoberta a trama, a desditosa dama foi condenada a muitos anos de prisão, vindo a cumprir sua pena na cadeia pública de Fortaleza. Ao ser solta, semi-enlouquecida e depauperada, perambulava pelas ruas da capital até quando morreu como indigente. Foi nessa história real que se baseou Oliveira Paiva para escrever Dona Guidinha do Poço.
    É um romance modelar do realismo brasileiro. Compromissado com a realidade, ele mostra uma história que realmente aconteceu, mudando os nomes dos personagens e acrescentando alguns detalhes ficcionais e ilustrativos. Depois há a coragem do autor em introduzir na sua linguagem o rico latifúndio lingüístico regional. O falar da região aparece como forma de trazer não só o homem mas principalmente sua fala para dentro do enredo. Além disso há outra realidade cruciante no romance, que ainda hoje se faz presente na região do semiárido nordestino que é a seca.

    A seca, pois, e o regionalismo margeiam o tempo todo a saga trágica acontecida na fazenda Poço da Moita. A linguagem do povo está tão presente que necessária se tornou a elaboração de um glossário no final do livro. Com cerca de quinhentos verbetes esse glossário de termos bem demonstrativos do falar do sertão cearense comprova a preocupação do autor em devassar a vida daquela gente sofrida a partir da sua linguagem. Prova é que a partir da primeira expressão do livro “De primeiro” esse falar já se apresenta. Depois disso vão se configurando cenas e temperamentos entre vistos sem a crueza naturalista em moda, mas deixando-os subentendidos como na estética realista.
    Dona Guidinha do Poço é, portanto, um romance comprometido com a estética realista, resgata a linguagem regionalista do centro sul cearense, apresenta uma história de paixão e morte que traz, secundando-a, o fenômeno climático da seca, tão marcante na região Nordeste como nos romances da geração de 30. Daí que o embrião para o romance de seca da segunda fase do nosso modernismo finca-se, segundo Alfredo Bosi, em Dona Guidinha do Poço, de Oliveira Paiva, Luzia-Homem, de Domingos Olímpio e A fome, de Rodolfo Teófilo. Esses três autores cearenses foram testemunhas da grande seca dos anos de 1877, 1878 e 1879. Essa temática aliada ao resgate que faz do regionalismo, faz com que se afirme que nenhum escritor cearense soube trabalhar com tanta felicidade a nossa linguagem do povo - sem desfigurar o conteúdo literário como Oliveira Paiva. Além disso há a técnica narrativa empreendida pelo escritor quando ele consegue tornar sugestiva qualquer minúcia, valendo-se de indicações objetivas para reforçar indiretamente o sentido da narrativa ou insinuar o caráter de um personagem.
    Dona Guidinha do Poço, considerado por José Ramos Tinhorão como um clássico da literatura brasileira. Obra de profundidade, psicológica e sociológica, vale-se de um estilo vivo, onde se fundem poesia, reflexão, senso de humor, a presença do falar regional nordestino, além do aproveitamento das tradições orais e das narrativas dos contadores de história.

    Dona Guidinha do Poço
     passa-se em dois anos, distribuídos ao longo dos 5 Livros: dois meses para o Livro I (o amor despontando); um mês para o Livro II (o amor se consuma em posse); onze meses para o Livro III (a paixão cega); novamente um mês para o Livro IV (o drama) e um mês ou mais para o Livro V (desenlace). Um preâmbulo de abertura completa a conta.
                                     Tempo
    O tempo cronológico, convencional e linear, com discretos flash backs, é altamente marcado, em dias, meses e até, por vezes, horas. Uma precisão, a mais óbvia, é, no entanto, insidiosamente escamoteada: o ano dos acontecimentos. Sabe-se que Guida era pequena na seca de 25 (“em 25, ela era ainda pequenota...” p. 56) e que tem, no momento da narrativa, mais de 30 anos. Essa inesperada imprecisão aponta para um desdobramento temporal entre o enunciado e o narrado: na verdade, a história de Guida pertence ao passado, é um “causo”, contado em outro momento. Aconteceu, “foi verdade” (a prova, as marcas de datas), no tempo da história.
    Ao tempo cronológico, exterior e ao tempo psicológico, interior, soma-se um tempo cósmico, cíclico, marcado pelas estações. Assim o Livro I é o da seca, em março; no Livro II vêm as chuvas de abril e maio; o Livro III, o mais extenso, cobre as quatro estações – primavera, verão, outono, inverno e novamente as chuvas; o Livro IV retorna à primavera e o Livro V, ao verão.
    Tempo cósmico, que é o tempo real do sertão e também o do mito e que, como as outras dimensões, dilui-se no final.
                                 Foco narrativo
    Em função do tempo, o narrador é a voz que conta um “causo”. Jogralcontador, assegura, através de sua narração, o tempo cósmico-simbólico e restaura, no jogo de corda bamba, o equilíbrio. Narrador sem rosto, voz discretamente onisciente e onipresente, porque situada em outro tempo: a história contada já aconteceu. Mas, se algumas pistas são maliciosamente jogadas cá e lá, ele guarda a surpresa do final (que conhece), mantendo o ouvinte-leitor preso ao narrar.
    Narrador popular, oral, que pouco intervém e que tem sua fala própria – e não é de espantar que, como Flaubert, use e abuse do estilo indireto livre.
    Alguém conta uma história: o clássico narrador na terceira pessoa vai nos narrar o que sucedeu no Poço da Moita. Vemos na narrativa outras vozes surgirem e vários narradores proliferarem. O narrador de Dona Guidinha é um homem culto, com belo manejo de língua, conhecedor do latim e que julga desabusadamente a sociedade.
                             Enredo
                A história do livro Dona Guidinha do Poço passa-se no município de Quixeramobim no Ceará. Narra a história da poderosa Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, dona de cinco fazendas, prédios, gados, pratarias e muitos escravos, tudo herdado de seu avô Reginaldo Venceslau de Oliveira, um rico fazendeiro português. Guidinha, como era conhecida por todos, era uma mulher bravia, caridosa e apaixonada pelos valores da terra. Casada com o major Joaquim Damião de Barros, que veio de Pernambuco para o Ceará no intuito de comprar cavalos, e aqui acabou ficando. Ela envolve-se com o sobrinho de seu marido, Luís Secundino de Sousa Barros, soldado elegante e vaidoso que veio de Goianinha, Pernambuco, acusado de matar seu padrasto, e refugia-se na fazenda do tio. A paixão entre ele e Guidinha fica, porém, subentendida. O major Quinquim, como era popularmente chamado o seu marido, começa a desconfiar do envolvimento dos dois. Acometido de uma doença ele, então, resolve viajar, mas antes de ir bota o Secundino para fora da fazenda. Guidinha resolve vingar-se do marido e, mancomunada com o amante e Silveira, manda Lulu Venâncio, um assassino da região, matá-lo. Porém, este desiste na hora. Ao saber que o assassino não tinha matado seu marido, Guidinha, então, manda Naiú, o filho de um empregado, concluir “o serviço”. Dias depois, o major é assassinado. A população revolta-se querendo “linchar” Naiú. Guidinha é tida como a mandante do homicídio. O juiz manda prendê-la e, como sempre altaneira, é conduzida a prisão, sob vaias da população. . Quando está sendo levada para a prisão, atravessa a cidade com arrogância e coragem. Na prisão, ela não para de pensar no que pode acontecer a Secundino. Ao final, o crime não é totalmente esclarecido, mas Guidinha ficou sendo a única responsável pelo assassinato do marido.


                           Personagens:

    Margarida Reginaldo de Oliveira Barros (Guidinha) – Era uma mulher generosa e voluntariosa. Casada com o major Joaquim Damião de Barros. Havia recebido uma herança de seu avô, a fazenda Poço da Moita e outras terras. Apaixona-se por Secundino, sobrinho de seu marido e com quem, supostamente, teve um caso amoroso.Ela manda matar o marido. O crime é descoberto, e ela é presa.
    Major Joaquim Damião (major Quinquim) – Major secretário da Guarda Nacional, Joaquim Damião, o Quinquim, era uma boa alma. Havia casado com Guidinha e com ela dividia a administração das posses. Acolhe na fazenda Poço da Moita o Silveira, um velho conhecido, e um sobrinho. Foi morto covardemente por Naiú, um empregado da fazenda a mando de Guidinha. 
    Secundino – Luís Secundino, um jovem mancebo, fugido de Goianinha, em Pernambuco, acusado como cúmplice no assassinato do padrasto refugia-se na fazenda de Guidinha. Enamora-se de Lalinha, a filha de um Juiz de Direito. O seu romance com Lalinha não vinga. Envolve-se com Guidinha e ajuda-a no plano de matar o tio. 
    Silveira – Retirante acolhido pelo Major na fazenda Poço da Moita. Trabalha nos serviços da fazenda, é muito irresponsável, mas tem a proteção de Guidinha, já que é amigo de muito tempo de seu marido e Secundino. Ajuda a tramar a morte de Quinquim. Quando Naiú estava sendo preso, Silveira foge mata adentro. Antes havia tentado matar Quinquim com uma faca em virtude de uma discussão. 
    Carolina – Esposa de Silveira acolhia Secundino em sua casa para que Guidinha fosse vê-lo. 
    Lalinha – Filha do Juiz de Direito, enamorou-se de Secundino. Depois de muito sofrimento casou com o filho do líder do Partido Liberal. 
    Antônio – Vaqueiro da fazenda Poço da Moita, impediu que Silveira atacasse o major com uma faca. Perdeu espaço na fazenda para o Silveira. Era um bom homem. Abandonou a fazenda depois do episódio envolvendo o Major e o Silveira. 
    Naiú – Empregado da fazenda. Foi ele que, a mando de Guidinha, matou o Major Quinquim. 
    Outros personagens: Venâncio, Ana Balaio, Anselmo, Dona Anginha, Pe. João, Franco, Sampaio, Pe. Brasil, Néu.



                  Dona Guidinha do Poço foi a única obra importante do escritor realista Manuel de Oliveira Paiva, que morreu prematuramente aos 31 anos. Foi redescoberto e editado 60 anos após a sua morte.
                A protagonista é Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, mulher poderosa, dona de fazendas, grande rebanho de gado e muitos escravos. Ela se envolve com um sobrinho de seu marido, um soldado elegante e vaidoso que se refugiara em sua casa por ser acusado de um assassinato.
                O marido de Dona Guidinha desconfia da relação da esposa com seu sobrinho e decide entregá-lo à polícia. Para vingr-se, Dona Guidinha contrata um assassino para matar o marido. Acaba sendo presa pelo crime e levada para a cadeia, sob vaias da população.
         
    Sua única obra importante, Dona Guidinha do Poço, ficou ignorada até 1952 ,quando foi editada, sessenta anos após a morte do autor. Coube a Lúcia Miguel Pereira redescobri-la, fazendo na primeira Edição uma elogiosa (e merecida) apresentação. 



     Obra de profundidade, psicológica e sociológica, vale-se de um estilo vivo, onde se fundem poesia, reflexão, senso de humor, a presença do falar regional nordestino, além do aproveitamento das tradições orais e das narrativas dos contadores de história.
                               Baseado em uma história real, a qual foi pesquisada por Ismael Por deus, historiador, que teve acesso ao processo em que a poderosa fazendeira Marica Lessa respondeu pelo assassinato de seu marido o Coronel Domingos d´Abreu e Vasconcelos por volta de 1853.         
    A fazendeira morreu como indigente, depois de ser solta, semi-enlouquecida e pobre.

    Dona Guidinha do Poço, divide-se em cinco livros:
    Livro I   - o amor despontando;
    Livro II  - o amor se consuma em posse;
    Livro III - a paixão cega);
    Livro IV - o drama e
    Livro V - o desenlace.
                    Narra a história da poderosa Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, dona de cinco fazendas, prédios, gado, prataria e muitos escravos. Mulher bravia e apaixonada, envolve-se com um sobrinho de seu marido, soldado elegante e vaidoso. 
                    Este, acusado de homicídio, esconde-se na casa do tio, que desconfiado de seus amores com a mulher, Dona Guidinha resolve entregá-lo à polícia.
    Como vingança, Dona Guidinha, manda um caboclo matar o marido, e, como sempre altaneira, é conduzida a prisão, sob vaias da população.


    Fonte:

    PASSEIWEB; VESTIBULAR1.


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