terça-feira, 24 de maio de 2016

A Bagaceira



A Bagaceira, de José Américo de Almeida

Análise da obra
A bagaceira, publicada em 1928, é a obra introdutora do romance regionalista no país. A colisão dos meios pronunciava-se no contato das migrações periódicas. Os sertanejos eram mal-vistos nos brejos. E o nome de brejeiro cruelmente pejorativo.
O enredo do romance trata das questões do êxodo, os horrores gerados pela seca, além da visão brutal e autoritária do senhor de engenho, representando a velha oligarquia. A Bagaceira tem intenção crítica social, descambando, às vezes, para o panfletário, para o enfático e demagógico. Para o autor, o romance procura confrontar, em termos de relações humanas e de contrastes sociais, o homem do sertão e o homem do brejo (dos engenhos). Aproximando o sertanejo do brejeiro, na paisagem nordestina, José Américo de Almeida condiciona os elementos dramáticos aos ciclos periódicos da seca, os quais delimitam a própria existência do sertanejo.

Sob iluminação diferente, são postos em confronto, em A Bagaceira, os nordestinos do brejo e os do sertão. Brejeiros e sertanejos, submissão e liberdade, eram examinados com uma visão realista, se bem que, no registro das virtudes sertanejas possa notar-se, vez por outra, certo favorecimento (não intencional).
O título desse romance denomina o local em que se juntam, no engenho, os bagaços da cana. Figuradamente, pode indicar um objeto sem importância, ou ainda, "gente miserável". Todos esses significados se podem mobilizar no entendimento de A Bagaceira, romance de ardor e violência, desavenças familiares, flagelações da seca.
O autor que, antes, estreara vitoriosamente no ensaio, deixa transparecer aprofundado conhecimento do ambiente e do homem paraibano, anotando pormenores, acentuando os traços mais definidores, integrado na paisagem e na estrutura social cheia de injustiças.

O tempo é entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca. Tangidos pelo sol implacável, Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afilhado Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na zona do sertão. Vão para as regiões dos engenhos, no rejo, onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja mulher falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio. Passando as férias no engenho, Lúcio conhece Soledade por quem se apaixona. Lúcio retorna à academia e quando retorna em férias para a companhia do pai, toma conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o feitor Manuel Broca, suposto sedutor e amante de Soledade. Lúcio, já advogado, resolve defender Valentim e informa o pai de sua intenção de casar-se com Soledade. Dagoberto não aceita a decisão do filho. E então tudo é esclarecido: Soledade é prima de Lúcio, e Dagoberto foi quem realmente a seduziu. Pirunga, tomando conhecimento dos fatos, comunica ao padrinho (Valentim) e este lhe pede, sob juramento, velar pelo senhor do engenho (Dagoberto), até que ele possa executar o seu "dever": matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida, Soledade e Dagoberto, acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem para a fazenda do Bondó. Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga provoca a morte do senhor do engenho Marzagão, herdado por Lúcio, com a morte do pai. Em 1915, por outro período de seca, Soledade, já com a beleza destruída pelo tempo, vai ao encontro de Lúcio, para lhe entregar o filho, fruto do seu amor com Dagoberto.

O relato abre o ciclo do romance de 1930, entre outras razões por sua força de denúncia dos horrores gerados pela seca.
É digno de nota o prefácio que vale tanto ou mais do que próprio texto narrativo. Destaque para o espanto do escritor face às mazelas: "Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã."
Na narrativa há um choque de três visões que correspondem a três processos sócio-culturais distintos:
1) Visão rústica dos sertanejos, com seu sentido ético arcaico.
2) Visão brutal e autoritária do senhor de engenho, representando a velha oligarquia.
3) Visão civilizada (moderna, urbana) de Lúcio, traduzindo um novo comportamento de fundo burguês e que logo seria autorizado pela Revolução de 30.
É digno de nota o projeto modernizador do personagem Lúcio ao assumir o comando do engenho: alfabetização dos filhos dos trabalhadores, melhores condições de habitação, etc. Ou seja, aquilo que Getúlio Vargas proporia nos anos seguintes como alternativa para o país.
O livro apresenta uma mistura de linguagem tradicional - dominada por um tom desagradavelmente sentencioso - com um gosto modernista por elipses e imagens soltas, e ainda pelo uso de algumas expressões coloquiais ou regionais. Na obra a linguagem do narrador faz esforço para não se afastar em demasia da dos personagens, dialetal, folclórica.
Fora sua notável importância histórica, A bagaceira é um romance frustrado por causa do excesso de análise sociológica. É como se a ânsia do autor em tudo explicar, destruísse todo e qualquer efeito sugestivo da narrativa. 
Personagens centrais
Dagoberto Marçau - Proprietário do engenho Marzagão, simboliza a prepotência,  contrapondo-se à fraqueza dos trabalhadores da bagaceira. Considera-se "dono " da justiça e seu código é simples: "O que está na terra é da terra". Se ele é o senhor da terra, tudo que nela dá é da terra (ou seja, dele próprio). "Se ele é o senhor da terra, tudo que nela se encontra lhe pertence, até os próprios homens que trabalham no engenho. Assim pensa e assim age. Seduz  Soledade, vendo  na sertaneja semelhança com sua ex-mulher.

Lúcio - Humano, idealista, sonhador, apaixona-se por Soledade, com quem mantém um romance puro. Não compartilha as idéias de seu pai, Dagoberto Marçau, para quem "hoje em dia não se guarda mais na cabeça: só se deve guardar nas algibeiras. "Acreditava que  se podia desmontar a estrutura anacrônica do engenho: "Quanta energia mal empregada na desorientação dos processos agrícolas! 
A falta de método acarretava uma precariedade responsável pelos apertos da população misérrima. A gleba inesgotável era aviltada  por essa prostração  econômica. A mediania do senhor rural e a ralé faminta".
Soledade - Filha de Valentim Pereira, representa a beleza agreste do sertão. Aos olhos de Lúcio, a sertaneja. "não correspondia pela harmonia dos caracteres às exigências do seu  sentimento do tipo humano. Mas, não sabia por que, achava-lhe um sainete novo na feminilidade indefinível. As linhas físicas não seriam tão puras. Mas o todo picante tinha o sabor esquisito que se requintava em certa desproporção dos contornos e, notadamente, no centro petulante dos olhos originais."... "Era o tipo modelar de uma raça selecionada , sem mescla, na mais sadia consangüinidade."
A presença da sertaneja no engenho colocará uma barreira ainda maior entre Dagoberto e Lúcio. Por  Soledade Valentim se torna assassino e Pirunga causa a morte do senhor de engenho.
Valentim Pereira - Representa o sertão: destemido, arrojado e altivo. Como bom sertanejo pune pela honra de uma mulher, mata o feitor Manuel Broca, apontado como sedutor de sua filha. Mas a  "idéia fixa da honra sertaneja" vai além: a cicatriz que lhe marcava o rosto era resultado de uma briga mortal com um amigo, que desonrara uma  moça, neta de um "velhinho", de quem o tempo quebrara as forças. O diálogo entre Valentim e Brandão de Batalaia (assim se chamava o "velhinho")  é bem ilustrativo: "Que é que vossamecê manda? Ele respondeu que só queria era morrer. Eu ajuntei: E por  que não quer matar?..."
Pirunga - Filho de criação de Valentim Pereira, a quem tributa lealdade. Ama Soledade, mas seu amor não encontra receptividade. Assim como Valentim, simboliza o sertão: valente, intrépido, altivo... Por ocasião da festa no rancho, vai em defesa de Latomia: enfrentando a polícia.
                                                                Site: www.passeiweb.com/estudos/livros/a_bagaceira

O marco inicial da segunda fase do Modernismo brasileiro é considerado o lançamento do romance A bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928. Inaugura o ciclo do “romance nordestino” dos anos 30.
O enredo baseia-se no êxodo da seca de 1898, descrito como "(...) Uma ressurreição de cemitérios antigos - esqueletos redivivos, com o aspecto e o fedor das covas podres.(...)".   

Obra-prima do romance regionalista moderno, hoje com trinta e duas edições em língua portuguesa, edição crítica e versões em espanhol, francês, inglês e esperanto. Sua obra, com dezessete títulos, abriga ainda ensaios, oratória, crônica, memórias e poesia.

A Bagaceira foi o livro com o qual José Américo, político de grande influência na Paraíba, destacou-se na literatura. Retrata o nosso nordeste e a dificuldade dos habitantes em lidar com a seca.

José Américo foi um dos responsáveis pela criação do novo romance regionalista brasileiro, com o seu A bagaceira. Contudo, sua carreira de escritor acabou ficando em segundo plano devido à sua forte atuação na política.

Nasceu em 1887 no município de Areia, na Paraíba, filho de uma família de forte influência política na região. Estudou direito em Recife, formando-se em 1908; foi promotor-geral e consultor-geral do estado da Paraíba. Publicou seu primeiro livro em 1921, projetando-se como escritor com A bagaceira, em 1928.

Participou da gestão de João Pessoa no governo da Paraíba, apoiando a candidatura de Getúlio Vargas à presidência - João Pessoa era o vice na chapa. Participou do movimento revolucionário que pôs Getúlio no poder, depondo Washington Luís e impedindo a posse do eleito Júlio Prestes; tal movimento foi acelerado pelo assassinato de João Pessoa. Foi nomeado por Vargas governador da Paraíba e, depois, ministro da Viação e Obras Públicas. Mais tarde, elegeu-se senador pela Paraíba.

Colocou-se como candidato da situação à sucessão de Vargas, sendo frustrado pelo golpe que cancelou as eleições e fechou o Congresso, o que o levou a afastar-se de Vargas, chegando mesmo a fazer-lhe oposição. Reconciliou-se mais tarde com Vargas, participando de seu segundo governo. Após seu suicídio, deixou o ministério que ocupava e voltou para o governo da Paraíba, abandonando os cargos públicos ao fim do mandato. Manteve, porém, a influência na região por muitos anos, apoiando inclusive o golpe militar de 1964. Em 1967, entrou para a Academia Brasileira de Letras. Morreu em João Pessoa em 1980.

                         Site: maicongoncalves.xpg.uol.com.br/literatura/joseamerico-abagaceira-resumo.htm


ALMEIDA, José Américo de. A Bagaceira. São Paulo edição Integral. Círculo do Livro S/A 1980.p.224. O romance, “A Bagaceira”, é um romance ficcional e essa afirmação deve-se ao fato de ser uma história inventada pelo autor baseada em fatos reais, sabe-se que não é algo acontecido, mas, há a coerência interna que dá credibilidade à narrativa, é também narrado em 3ª pessoa porque o autor se situa fora dos acontecimentos e têm-se como personagens centrais Dagoberto Marçau, Lúcio, Soledade, Pirunga e Valentin.
               O romance se passa entre 1898 e 1915 e a intencionalidade do autor, desta trágica história de amor, serve puramente como pretexto para denunciar a questão social no Nordeste. Eram postos em confronto em A Bagaceira, os nordestinos do brejo e os do sertão. Brejeiros e Sertanejos submissão e liberdade são examinadas com uma visão realista, se bem que, no registro das virtudes sertanejas, possa notar-se, vez por outra, certo favorecimento do autor aos sertanejos do sertão.
               “O autor antes estreara vitoriosamente no ensaio, deixando transparecer aprofundado conhecimento do ambiente e do homem paraibano, anotando pormenores, acentuando os traços mais definidores, integrado na paisagem e na estrutura social cheia de injustiça”, (Ivan Cavalcanti Proença).
O título desse romance denomina o local que se juntam, no engenho, os bagaços da cana. Figuradamente, pode indicar um objeto sem importância, ou ainda, gente miserável.
                Dois são os planos básicos do romance: por um lado, temos a denúncia da questão social do nordeste e a análise da vida dos retirantes que chegam de tempos em tempos e não são bem vistos pelos trabalhadores permanentes dos engenhos (os brejeiros); por outro lado, o amor de Soledade e Lúcio, que tem um desfecho dramático, o qual se inicia quando o pai de Lúcio, Dagoberto, violenta Soledade e faz dela sua amante.
              Devido ao sol implacável, Valentin Pereira, sua filha Soledade e o filho adotivo Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na zona de sertão. Encaminham-se para as regiões dos engenhos, no rejo, onde encontram acolhida no Engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja mulher falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio, este sendo mandado para a cidade para estudar direito. Passando as férias no engenho, conhece Soledade, e brota um forte afeto, mas o rapaz hesita em dar plena seqüência ao flerte por não ter convicção de que seria capaz de amá-la no contexto urbano e intelectualizado, no qual ele vivia. Retorna para a academia e quando volta, em férias, à companhia do pai, toma conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o feitor da fazenda Manuel Broca, suposto sedutor de Soledade. Lúcio, já advogado, resolve defender Valentim e informa o pai do seu propósito: casar-se com Soledade. Dagoberto não aceita a decisão do filho e não vê outra saída se não contar a verdade para o filho, que tinha sido o autor da desonra de Soledade. Pirunga, tomando conhecimento dos fatos, comunica a Valentin e este lhe pede, sob juramento, velar pelo senhor do engenho, até que ele possa executar o seu dever, matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida, Soledade e Dagoberto, acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem para a fazenda do Bondó. Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga provoca a morte do senhor de engenho. Marzagão é herdado por Lúcio, com a morte do pai.
                 Em 1915, por outro período da seca, Soledade já com a beleza destruída pelo tempo, vai ao encontro de Lúcio para lhe entregar o filho dela com seu pai, ou seja, o irmão de Lúcio.
                Segundo Afrânio Coutinho, o livro de José Américo de Almeida surge no momento em que a República Velha, apoiada nos tradicionais setores dos proprietários de terras, entrava em crise e era associada pelo entusiasmo corajoso, mas desnorteado de jovens políticos e oficiais, afirma ainda mais, que o livro refletia e atacava o velho sistema da concentração latifundiária no Nordeste, que lhe aparecia como uma das vigas da miséria da região. Este grito de insubmissão contra o decrépito, o tom direto com que passava a ser expressa, a luta do carcomido contra a mocidade e ao elemento sentimental do enredo devem ter exercido um papel relevante na euforia com que foi recebido.
                  Na visão de Alfredo Bosi, A Bagaceira tem intenção crítica social, descambando às vezes para o panfletário, para o enfático e demagógico. Para o autor, o romance procura confrontar, em termos do sertão e o homem do brejo (dos engenhos). Aproximando o sertanejo do brejeiro, na paisagem nordestina, José Américo de Almeida condiciona os elementos dramáticos aos ciclos periódicos da seca, os quais delimitam a própria existência do sertanejo, e afirma ainda que passou a marco da literatura social nordestina. Crendo que se dava não tanto aos seus méritos intrínsecos quanto por ter definido uma direção normal (realista) e um veio temático.
                 Ora, se o romance é uma mentira disfarçada para mostrar a miséria e injustiça do povo do nordeste, que mal há? O importante é saber que em 1928 o autor já tinha uma visão futurista, pois, a questão continua existindo até os dias de hoje. Há a fome, a migração, os senhores do engenho que continuam lá, que não deixam de ser os políticos, com seus discursos falaciosos iludindo aquele povo de que solucionarão o problema da seca, sendo que na realidade, seca se resume nos corações das pessoas que não se importam com a miséria humana, não só dos sertanejos, mas de todos que se esgueiram da fome. José Américo, em momento algum, descreve no romance uma ceia, com uma mesa farta, até na mesa do senhor do engenho não aparece fartura, é nas personagens que o autor deixa bem explícito o propósito do romance, se é que tinha um.
                Dagoberto Marçau é o símbolo da prepotência, é o dono da terra, e tudo o que lá esta, a ele pertence, representa aquele que é contra a reforma agrária; Lúcio já é mais humano, idealista, sonhador, quando herda o engenho, devido à morte de seu pai, ele dá inicio à modernização da propriedade que fora do pai, tanto em termos produtivos quanto em termos sociais. E Soledade, quantas Soledades existem ainda? Muitas. No nordeste o que mais tem são Soledades,
                      As Soledades são as filhas dos empregados dessas fazendas, que se iludem com o moço que vai para o centro urbano estudar e passam as férias na fazenda de seus pais ricos e brincam com os sentimentos delas ou elas, às vezes, deixam-se brincar pelos próprios sentimentos, resultando numa gravidez inesperada e não havendo outra saída se não ir desembarcar na rodoviária do Glicério, em São Paulo, para fugir da vergonha causada a seus familiares. A personagem Soledade, presente no engenho coloca uma barreira entre pai e filho, porque Soledade representa a beleza agreste do sertão. Valentin representa o sertão: destemido, arrojado e altivo. Como sertanejo, pune pela honra de uma mulher, ele pune em honra de sua filha e, Pirunga assim como Valentim também simboliza o sertão: valente, intrépido, altivo. Por ocasião de uma festa no rancho, vai a defesa de Latomia, um dos retirantes, enfrentando a policia, “O sertanejo fazia frente a toda tropa na confusão do conflito corpo a corpo. Seu olhar fuzilava na treva como um sabre desembainhado”.
                  Ainda com relação às personagens em uma análise mais técnica, Dagoberto e Soledade se enquadram na categoria das personagens de natureza, por que além dos traços superficiais, seus modos íntimos de serem impede que tenham a regularidade dos outros e Lucio, Valentin e Pirunga já são mais planas, pois o autor as construiu em torno de uma qualidade.
                De acordo com o professor Joel Pontes, UFP, já falecido, em crítica publicada no livro Pequeno Dicionário da Literatura Brasileira, organizado pelos Professores Massaud Moisés e José Paulo Paes, o romance foi a base para a consolidação da obra de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Raquel de Queirós, pois, personagens como Dagoberto, Pirunga e Soledade retomam mais bem caracterizados nas obras dos escritores posteriores. Mas ele deixa claro que, tecnicamente, o romance não inova a prosa nordestina, pois ainda é um romance de tese e cita um capítulo que possa provar, que é “O Julgamento”, típico dos romances do século XIX e também presente em os “Sertões”, de Euclides da Cunha.
             Portanto, o destaque do romance fica por conta do lastro sociológico e da poeticidade de cenas e sentimentos. Outro destaque também é a narrativa do romance. Como o narrador se situa fora dos acontecimentos, é um observador onisciente, apresentando um trabalho de linguagem muito rico, ele utiliza-se de uma linguagem de acordo com a norma culta da língua portuguesa, talvez pelo fato do autor ter estudado direito. As falas das personagens reproduzem o falar sertanejo, a dicotomia entre a linguagem refinada do narrador e a brutalidade da linguagem das personagens cria uma tensão lingüística que é um dos aspectos mais salientes e importantes do romance.
               Guimarães Rosa afirmou que José Américo “abriu para todos os caminhos do moderno romance brasileiro”. De uma maneira contundente está presente no romance à miséria do sertão; a brutalidade do ser humano nordestino; as relações entre os senhores do engenho e os seus empregados, e isso, talvez pelo fato do autor ter exercido vários cargos políticos e nascido na região, onde se passa o desfecho do enredo do romance. Há uma ânsia em querer denunciar os flagelos que a seca causou àquela gente e percebe-se uma vontade enorme dos retirantes voltar ao sertão, o que não deixa de ser à vontade do próprio autor voltar a sua origem.
O romance se abre com um prefácio manifesto intitulado “Antes que me falem”, em que o autor expõe alguns dos princípios básicos que haveriam de nortear, não apenas a composição da sua obra, mas também o regionalismo de 30.
               “O regionalismo é o pé-de-fogo da literatura... Mas a dor é universal, porque é uma expressão da humanidade. E nossa ficção incipiente não pode competir com os temas cultivados por uma inteligência mais requintada: só interessará por suas revelações, pela originalidade de seus aspectos despercebidos”.
                  Site:http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2412067

Um comentário:

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