segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O GRANDE MENTECAPTO

[Fernando Sabino]

Fernando Sabino é autor contemporâneo dos mais importantes. Dono de um estilo inconfundível em que ressalta o extremo cuidado com a linguagem, é um especialista em criar situações cômicas de profunda beleza plástica. Sua capacidade descritiva faz com que o leitor, além de se deleitar com a complicação da trama, consiga visualizar a cena criada pelo narrado. Sua obra é extensa e inclui principalmente crônicas e contos. Seus romances — O Encontro Marcado; O Menino no Espelho; O Grande Mentecapto — são fruto de profunda preparação e artesanato impecável. Por isso mesmo cresce a cada dia a importância de sua obra no panorama da atual Literatura Brasileira. 

Nesse romance de 1979, o Autor elabora uma trama com a nítida intenção de homenagear as pessoas humildes, simples e puras. Já na epígrafe da narrativa, 'Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, este será o maior no reino dos céus.'. nota-se a vontade de elevar os puros, os inocentes e os ingênuos. 

Na linha da novela picaresca — vide o Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes —, em que o personagem desloca-se por um espaço indefinido, à cata dos conflitos, para resolvê-los heroicamente, Viramundo vive uma sequência de peripécias acontecidas no Estado de Minas Gerais, contracenando com personagens dos mais variados matizes e comportando-se sempre como o bem-intencionado, o puro, o ingênuo submetido às artimanhas e maldades de um mundo que ainda não está de todo resolvido. Andarilho, louco, despossuído, vagabundo, idealista. Marginal em uma sociedade que não entende e em que não se enquadra, o Viramundo instaura um sentimento de ternura e de pena por todos aqueles que, em sua simplicidade, sofrem o descaso, a ironia, a opressão e a prepotência. 

Como o Quixote, com a sua amada Dulcinéia, e como Dirceu, com a sua adorada Marília, Viramundo põe em suas ações tresvariadas a esperança de realizar-se emocionalmente com a sua idealizada e inalcançável Marília, filha do governador de Minas Gerais. Sua ilusão alucinada é reforçada pelos pseudo-amigos que o enganam com falsas cartas de amor e incentivam sua loucura mansa e seu sonho impossível. 

Viramundo conhece que o mundo é uma grande metáfora e o trata com idealismo como se ele fosse real. Consertar o mundo é sua missão e ele se dedica a ela com toda a força de sua decisão, não se deixando abalar pelo insucesso, pelo ridículo, pela violência ou pelo vitupério. Em seu delírio, o irreal e o real andam de mãos dadas, não há a separação entre o concreto e o abstrato, e por isso o herói não se abala física ou emocionalmente com nada com que se defronte: não teme os fortes, os violentos; não se assusta com fantasmas e nem com ameaças; aceita resignadamente o que a vida lhe reserva. 

Percebe-se aqui que, além de pícaro, nosso herói pode ser considerado como bufão, pois jacta-se tolamente sobre supostas capacidades de resolver as injustiças e o desacerto do mundo. Não tem qualquer ligação definitiva com a vida; não assume compromissos; é desprezado e usado por aqueles com os quais se relaciona. 

A pureza deste aventureiro é a crítica à hipocrisia das relações humanas em um mundo que perdeu o sentido da solidariedade e da fraternidade. Sua alegria ingênua e desinteressada opõe-se ao jogo bruto dos interesses malferidos, ao conservadorismo e à arrogância. Porta-voz dos loucos, dos mendigos, das prostitutas, o Viramundo conhece os meandros da enganação e da falsidade dos políticos e dos poderosos. 

A crítica à mesmice, ao chavão e ao clichê faz-se pela presença da paródia a muitos autores e personagens historicamente conhecidos. 

Viramundo não era conhecido, mas termina por criar fama em razão dos casos incríveis em que se envolve. Sob a aparência imunda de um mendigo está um sujeito com cultura geral incomum. Sua fala de homem conhecedor surpreende e sua experiência de ex-seminarista e ex-militar confunde e admira aqueles com quem convive. Sua esquisitice e suas respostas prontas a todas as indagações fazem com se acredite tratar-se de um louco manso e inofensivo. 

Outro aspecto interessante é a exploração da temática da loucura. O Autor parece convidar o leitor a uma reflexão sobre a origem e o convívio com a ideia da excentricidade do comportamento humano. Viramundo pode ser considerado um louco, mas quem não o é? O que a sociedade considera loucura? Como classificar e tratar os indivíduos que atuam em dissonância com aquilo que se considera normalidade? A sociedade mostrada no romance está povoada de tipos que comumente chamamos de loucos: os habitantes de Mariana agem desvairadamente ao tentar linchar Dª. Peidolina; o diretor do hospício é mais estranho que os próprios internos do manicômio; o capitão Batatinhas é absolutamente alienado. Há no decorrer de toda a narrativa o questionamento da fragilidade dos limites entre a sanidade e a loucura. 

No limiar da consumação de sua caminhada, Viramundo mudou. No começo era idealista e cheio dos cometimentos da paixão. Manteve-se assim durante muito tempo até encarar a dura realidade da convivência humana. A série de acontecimentos em que figura como perdedor físico e emocionalmente faz com que se desiluda. Descobre que as cartas de amor eram falsas; os amigos eram falsos; sua crença era falsa. Por todo lado só encontra sofrimento, opressão, hipocrisia. Está só, absolutamente só, e a solidão é tudo que lhe resta. 

Seu fim é emblemático. Morre vitimado pelo próprio irmão. Paga por um crime que não cometeu. A intertextualidade bíblica é evidente: compara a trajetória e o comportamento de Viramundo com a Via-Sacra do Cristo, em todos os sentidos, inclusive no sacrifício final.


Tudo começa em Rio Acima onde nasce o protagonista dessa história. Filho de um portugues e uma italiana, tinha doze irmãos. Geraldo Boaventura que é seu nome verdadeiro, fez de tudo na sua infância. Era tão levado que não lhe escapava a um dia sem uma grande aventura.
A maior loucura de sua infância de que se sabe foi a sua proeza de parar o trem em Rio Acima, tal foi sua proeza que ele se tornou herói da molecada e ganhou seu primeiro beijo. Mas nem tudo foram rosas para nosso herói mirim, logo outro tentou refazer sua proeza, um menino a quem chamavam de Pingolinha, pequeno e travesso tentou fazer o trem parar. Mas não teve a mesma sorte, e acabou morrendo nos trilhos do trem.
Sabe-se que depois do velório do menino se abateu nos habitantes da cidade um sentimento de ódio, todos acabaram por culpar Viramundo e sua família, lhes fazendo ameaças. Mas para o bem de Viramundo não houve malefícios físicos a ele. O que aconteceu depois de todo o alarde for que ele se afastou socialmente das pessoas, vivia sozinho e infeliz a carregar sua culpa.
Um tempo mais tarde conheceu Padre Limeira, com quem acabou por dividir suas idéias tentando obter alguma ajuda. Por fim acabou indo com o padre para um seminário, onde cometeu sua primeira peripécia da vida adulta. Acabou em um dia por ter dormido dentro do confessionário, ao que Dona Peidolina como ironizada mente era conhecida, entrou no confessionário e começou a se confessar, e ele ouvindo o que ela falava, se indignou em sua ideologia, e repreendeu-a.
Logo ela descobriu que estava falando com Viramundo, e alarmou a todos o fato, fazendo com que ele fosse expulso do seminário. Nesse momento ele deveria voltar para Rio Acima, mas como bom vagabundo inicia sua jornada. Seu primeiro passo foi tentar acabar com a confusão gerada sobre as intimidades de Dona Peidolina.
Depois disso segui seu caminho, conheceu Dionísio com quem fez grande amizade. Também conheceu Marília por quem platonicamente se apaixonou. Até mesmo imaginou estar trocando cartas com ela, o que não passou de uma brincadeira de mau gosto de Dionísio e seus amigos estudantes. Seu amor por ela era tal que entrou de penetra em uma festa, e acabou com ela de um jeito não muito sutil, tanto que teve de partir.
Seguindo seu caminho encontro um tal de Herr Bosmann com quem teve um desentendimento por causa de uma rosa, e ao final conluiou-se com Barbeca, e destruíram os dois o roseiral do carrasco, sendo assim Barbeca foi preso e Viramundo mandado a um hospício, do qual fugiu com um plano engenhoso, e ainda, fazendo com que Herr Bosmann fosse dado como o louco da história.
Por essa mesma época colocaram-no como candidato político, e até mesmo fez um discurso no qual aclamado pelo publico ganhou, mas ao fim foi recolhido pela guarda e teve de servir ao exército. No exército fez muita amizade com o Capitão Batatinhas, falou com o cavalo Bunda Mole, aprontou das suas, desertou, pensou ser herói, e foi condecorado Comandante.
Continuando sua peregrinação chega a uma cidade onde faz amizade com pessoas de uma orquestra, os ajuda, e no fim os atrapalha deixando com que um gambá entre numa tuba e lá se instala. Sendo assim, com medo, ele os deixa para trás. Também um tempo depois faz amizade com um preso, e fica no seu lugar dele ao ser engabelado.
Ainda por fim, antes de cumprir seu destino, revê sua amada, pega um touro a mão, perde um amigo, o velho Elias. Conversa com uma mulher fantasma fajuta e conhece Maria Eudóxia, uma doceira de mão cheia.
No fim de toda a história, ele chega a Belo Horizonte onde por um tempo vive em uma pensão, vai para a sarjeta, é remanejado novamente para um hospício, foge novamente, Cria uma revolução juntando os loucos do hospício, os sem-teto, e prostitutas, reivindicando uma melhor a situação para todos. Mas que com facilidade foram dispersos, após Viramundo ter falado com o governador.
Ao fim de toda essa aventura, ele volta para Rio Acima a fim de recontinuar sua revolução, só que no fim da história é confundido, e acaba sendo morto pelo próprio irmão.

História do Autor
Fernando Tavares Sabino nasceu em Belo Horizonte a 12 de outubro de 1923 foi um escritor e jornalista brasileiro.
Fez o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena e o secundário noGinásio Mineiro. Durante a adolescência, foi locutor de programa de rádio e começou a colaborar regularmente com artigos, crônicas e contos em revistas da cidade, conquistando prêmios em concursos.
No início da década de 1940, começou a cursar a Faculdade de Direito e ingressou no jornalismo como redator da Folha de Minas. Seu primeiro livro de contos, Os grilos não cantam mais, foi publicado em 1941, no Rio de Janeiro. Tornou-se colaborador regular do jornal Correio da Manhã, onde conheceu Vinicius de Moraes, de quem se tornou amigo.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1944. Depois de se formar em Direito na Faculdade Federal do Rio de Janeiro em 1946, viajou com Vinicius de Moraes aos Estados Unidos da América, onde morou por dois anos em Nova Iorque.
O encontro marcado, uma de suas obras mais conhecidas, foi lançada em 1956, ganhando edições até no exterior, além de ser adaptada para o teatro. Sabino decidiu, então 1957, viver exclusivamente como escritor e jornalista. Iniciou uma produção diária de crônicas para o Jornal do Brasil, escrevendo mensalmente também para a revista Senhor.
Em 1960, Fernando Sabino publicou o livro O homem nu, pela Editora do Autor, fundada por ele, Rubem Braga e Walter Acosta. Publicou, em 1962, A mulher do vizinho, que recebeu o Prêmio Cinaglia do Pen Club do Brasil.
Em 1966, fez a cobertura da Copa do Mundo de Futebol para o Jornal do Brasil. Fundou, em 1967, em conjunto com Rubem Braga, a Editora Sabiá, onde publicou livros de Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Clarice Lispector, entre outros.
Publicou o romance O grande mentecapto em 1979, iniciado mais de trinta anos antes. A obra, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti, e acabaria sendo adaptada para o cinema, com direção de Oswaldo Caldeira, em 1989, e também para o teatro. Em julho de 1999, recebeu da Academia Brasileira de Letras o prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra.
Faleceu em sua casa em Ipanema, zona sul no Rio de Janeiro, a 11 de outubro de 2004, vítima de câncer no fígado, às vésperas de seu 81º aniversário.

Dona Guidinha do Poço


Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva


    Obra do autor cearense Manuel de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço resgata elementos da cultura nordestina e pormenores da vida interiorana, na história de uma mendiga que, no final do século XIX, era alvo de piadas nas ruas, por ter sido condenada pela Justiça de Quixeramobim pelo assassinato do próprio marido. A tragédia inclui elementos de vingança, prisões e mortes.
    É a saga da fazendeira Marica Lessa. Essa via foi devassada pelo historiador Ismael Por deus que teve acesso em cartório de Quixeramobim, ao processo em que a poderosa fazendeira Marica Lessa respondeu pelo assassinato de seu marido o Cel. Domingos d´Abreu e Vasconcelos por volta de 1853. A fazendeira poderosa amasiou-se com um sobrinho do marido, Senhorinho Pereira, e contratou o executante do crime contra seu consorte. Descoberta a trama, a desditosa dama foi condenada a muitos anos de prisão, vindo a cumprir sua pena na cadeia pública de Fortaleza. Ao ser solta, semi-enlouquecida e depauperada, perambulava pelas ruas da capital até quando morreu como indigente. Foi nessa história real que se baseou Oliveira Paiva para escrever Dona Guidinha do Poço.
    É um romance modelar do realismo brasileiro. Compromissado com a realidade, ele mostra uma história que realmente aconteceu, mudando os nomes dos personagens e acrescentando alguns detalhes ficcionais e ilustrativos. Depois há a coragem do autor em introduzir na sua linguagem o rico latifúndio lingüístico regional. O falar da região aparece como forma de trazer não só o homem mas principalmente sua fala para dentro do enredo. Além disso há outra realidade cruciante no romance, que ainda hoje se faz presente na região do semiárido nordestino que é a seca.

    A seca, pois, e o regionalismo margeiam o tempo todo a saga trágica acontecida na fazenda Poço da Moita. A linguagem do povo está tão presente que necessária se tornou a elaboração de um glossário no final do livro. Com cerca de quinhentos verbetes esse glossário de termos bem demonstrativos do falar do sertão cearense comprova a preocupação do autor em devassar a vida daquela gente sofrida a partir da sua linguagem. Prova é que a partir da primeira expressão do livro “De primeiro” esse falar já se apresenta. Depois disso vão se configurando cenas e temperamentos entre vistos sem a crueza naturalista em moda, mas deixando-os subentendidos como na estética realista.
    Dona Guidinha do Poço é, portanto, um romance comprometido com a estética realista, resgata a linguagem regionalista do centro sul cearense, apresenta uma história de paixão e morte que traz, secundando-a, o fenômeno climático da seca, tão marcante na região Nordeste como nos romances da geração de 30. Daí que o embrião para o romance de seca da segunda fase do nosso modernismo finca-se, segundo Alfredo Bosi, em Dona Guidinha do Poço, de Oliveira Paiva, Luzia-Homem, de Domingos Olímpio e A fome, de Rodolfo Teófilo. Esses três autores cearenses foram testemunhas da grande seca dos anos de 1877, 1878 e 1879. Essa temática aliada ao resgate que faz do regionalismo, faz com que se afirme que nenhum escritor cearense soube trabalhar com tanta felicidade a nossa linguagem do povo - sem desfigurar o conteúdo literário como Oliveira Paiva. Além disso há a técnica narrativa empreendida pelo escritor quando ele consegue tornar sugestiva qualquer minúcia, valendo-se de indicações objetivas para reforçar indiretamente o sentido da narrativa ou insinuar o caráter de um personagem.
    Dona Guidinha do Poço, considerado por José Ramos Tinhorão como um clássico da literatura brasileira. Obra de profundidade, psicológica e sociológica, vale-se de um estilo vivo, onde se fundem poesia, reflexão, senso de humor, a presença do falar regional nordestino, além do aproveitamento das tradições orais e das narrativas dos contadores de história.

    Dona Guidinha do Poço
     passa-se em dois anos, distribuídos ao longo dos 5 Livros: dois meses para o Livro I (o amor despontando); um mês para o Livro II (o amor se consuma em posse); onze meses para o Livro III (a paixão cega); novamente um mês para o Livro IV (o drama) e um mês ou mais para o Livro V (desenlace). Um preâmbulo de abertura completa a conta.
                                     Tempo
    O tempo cronológico, convencional e linear, com discretos flash backs, é altamente marcado, em dias, meses e até, por vezes, horas. Uma precisão, a mais óbvia, é, no entanto, insidiosamente escamoteada: o ano dos acontecimentos. Sabe-se que Guida era pequena na seca de 25 (“em 25, ela era ainda pequenota...” p. 56) e que tem, no momento da narrativa, mais de 30 anos. Essa inesperada imprecisão aponta para um desdobramento temporal entre o enunciado e o narrado: na verdade, a história de Guida pertence ao passado, é um “causo”, contado em outro momento. Aconteceu, “foi verdade” (a prova, as marcas de datas), no tempo da história.
    Ao tempo cronológico, exterior e ao tempo psicológico, interior, soma-se um tempo cósmico, cíclico, marcado pelas estações. Assim o Livro I é o da seca, em março; no Livro II vêm as chuvas de abril e maio; o Livro III, o mais extenso, cobre as quatro estações – primavera, verão, outono, inverno e novamente as chuvas; o Livro IV retorna à primavera e o Livro V, ao verão.
    Tempo cósmico, que é o tempo real do sertão e também o do mito e que, como as outras dimensões, dilui-se no final.
                                 Foco narrativo
    Em função do tempo, o narrador é a voz que conta um “causo”. Jogralcontador, assegura, através de sua narração, o tempo cósmico-simbólico e restaura, no jogo de corda bamba, o equilíbrio. Narrador sem rosto, voz discretamente onisciente e onipresente, porque situada em outro tempo: a história contada já aconteceu. Mas, se algumas pistas são maliciosamente jogadas cá e lá, ele guarda a surpresa do final (que conhece), mantendo o ouvinte-leitor preso ao narrar.
    Narrador popular, oral, que pouco intervém e que tem sua fala própria – e não é de espantar que, como Flaubert, use e abuse do estilo indireto livre.
    Alguém conta uma história: o clássico narrador na terceira pessoa vai nos narrar o que sucedeu no Poço da Moita. Vemos na narrativa outras vozes surgirem e vários narradores proliferarem. O narrador de Dona Guidinha é um homem culto, com belo manejo de língua, conhecedor do latim e que julga desabusadamente a sociedade.
                             Enredo
                A história do livro Dona Guidinha do Poço passa-se no município de Quixeramobim no Ceará. Narra a história da poderosa Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, dona de cinco fazendas, prédios, gados, pratarias e muitos escravos, tudo herdado de seu avô Reginaldo Venceslau de Oliveira, um rico fazendeiro português. Guidinha, como era conhecida por todos, era uma mulher bravia, caridosa e apaixonada pelos valores da terra. Casada com o major Joaquim Damião de Barros, que veio de Pernambuco para o Ceará no intuito de comprar cavalos, e aqui acabou ficando. Ela envolve-se com o sobrinho de seu marido, Luís Secundino de Sousa Barros, soldado elegante e vaidoso que veio de Goianinha, Pernambuco, acusado de matar seu padrasto, e refugia-se na fazenda do tio. A paixão entre ele e Guidinha fica, porém, subentendida. O major Quinquim, como era popularmente chamado o seu marido, começa a desconfiar do envolvimento dos dois. Acometido de uma doença ele, então, resolve viajar, mas antes de ir bota o Secundino para fora da fazenda. Guidinha resolve vingar-se do marido e, mancomunada com o amante e Silveira, manda Lulu Venâncio, um assassino da região, matá-lo. Porém, este desiste na hora. Ao saber que o assassino não tinha matado seu marido, Guidinha, então, manda Naiú, o filho de um empregado, concluir “o serviço”. Dias depois, o major é assassinado. A população revolta-se querendo “linchar” Naiú. Guidinha é tida como a mandante do homicídio. O juiz manda prendê-la e, como sempre altaneira, é conduzida a prisão, sob vaias da população. . Quando está sendo levada para a prisão, atravessa a cidade com arrogância e coragem. Na prisão, ela não para de pensar no que pode acontecer a Secundino. Ao final, o crime não é totalmente esclarecido, mas Guidinha ficou sendo a única responsável pelo assassinato do marido.


                           Personagens:

    Margarida Reginaldo de Oliveira Barros (Guidinha) – Era uma mulher generosa e voluntariosa. Casada com o major Joaquim Damião de Barros. Havia recebido uma herança de seu avô, a fazenda Poço da Moita e outras terras. Apaixona-se por Secundino, sobrinho de seu marido e com quem, supostamente, teve um caso amoroso.Ela manda matar o marido. O crime é descoberto, e ela é presa.
    Major Joaquim Damião (major Quinquim) – Major secretário da Guarda Nacional, Joaquim Damião, o Quinquim, era uma boa alma. Havia casado com Guidinha e com ela dividia a administração das posses. Acolhe na fazenda Poço da Moita o Silveira, um velho conhecido, e um sobrinho. Foi morto covardemente por Naiú, um empregado da fazenda a mando de Guidinha. 
    Secundino – Luís Secundino, um jovem mancebo, fugido de Goianinha, em Pernambuco, acusado como cúmplice no assassinato do padrasto refugia-se na fazenda de Guidinha. Enamora-se de Lalinha, a filha de um Juiz de Direito. O seu romance com Lalinha não vinga. Envolve-se com Guidinha e ajuda-a no plano de matar o tio. 
    Silveira – Retirante acolhido pelo Major na fazenda Poço da Moita. Trabalha nos serviços da fazenda, é muito irresponsável, mas tem a proteção de Guidinha, já que é amigo de muito tempo de seu marido e Secundino. Ajuda a tramar a morte de Quinquim. Quando Naiú estava sendo preso, Silveira foge mata adentro. Antes havia tentado matar Quinquim com uma faca em virtude de uma discussão. 
    Carolina – Esposa de Silveira acolhia Secundino em sua casa para que Guidinha fosse vê-lo. 
    Lalinha – Filha do Juiz de Direito, enamorou-se de Secundino. Depois de muito sofrimento casou com o filho do líder do Partido Liberal. 
    Antônio – Vaqueiro da fazenda Poço da Moita, impediu que Silveira atacasse o major com uma faca. Perdeu espaço na fazenda para o Silveira. Era um bom homem. Abandonou a fazenda depois do episódio envolvendo o Major e o Silveira. 
    Naiú – Empregado da fazenda. Foi ele que, a mando de Guidinha, matou o Major Quinquim. 
    Outros personagens: Venâncio, Ana Balaio, Anselmo, Dona Anginha, Pe. João, Franco, Sampaio, Pe. Brasil, Néu.



                  Dona Guidinha do Poço foi a única obra importante do escritor realista Manuel de Oliveira Paiva, que morreu prematuramente aos 31 anos. Foi redescoberto e editado 60 anos após a sua morte.
                A protagonista é Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, mulher poderosa, dona de fazendas, grande rebanho de gado e muitos escravos. Ela se envolve com um sobrinho de seu marido, um soldado elegante e vaidoso que se refugiara em sua casa por ser acusado de um assassinato.
                O marido de Dona Guidinha desconfia da relação da esposa com seu sobrinho e decide entregá-lo à polícia. Para vingr-se, Dona Guidinha contrata um assassino para matar o marido. Acaba sendo presa pelo crime e levada para a cadeia, sob vaias da população.
         
    Sua única obra importante, Dona Guidinha do Poço, ficou ignorada até 1952 ,quando foi editada, sessenta anos após a morte do autor. Coube a Lúcia Miguel Pereira redescobri-la, fazendo na primeira Edição uma elogiosa (e merecida) apresentação. 



     Obra de profundidade, psicológica e sociológica, vale-se de um estilo vivo, onde se fundem poesia, reflexão, senso de humor, a presença do falar regional nordestino, além do aproveitamento das tradições orais e das narrativas dos contadores de história.
                               Baseado em uma história real, a qual foi pesquisada por Ismael Por deus, historiador, que teve acesso ao processo em que a poderosa fazendeira Marica Lessa respondeu pelo assassinato de seu marido o Coronel Domingos d´Abreu e Vasconcelos por volta de 1853.         
    A fazendeira morreu como indigente, depois de ser solta, semi-enlouquecida e pobre.

    Dona Guidinha do Poço, divide-se em cinco livros:
    Livro I   - o amor despontando;
    Livro II  - o amor se consuma em posse;
    Livro III - a paixão cega);
    Livro IV - o drama e
    Livro V - o desenlace.
                    Narra a história da poderosa Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, dona de cinco fazendas, prédios, gado, prataria e muitos escravos. Mulher bravia e apaixonada, envolve-se com um sobrinho de seu marido, soldado elegante e vaidoso. 
                    Este, acusado de homicídio, esconde-se na casa do tio, que desconfiado de seus amores com a mulher, Dona Guidinha resolve entregá-lo à polícia.
    Como vingança, Dona Guidinha, manda um caboclo matar o marido, e, como sempre altaneira, é conduzida a prisão, sob vaias da população.


    Fonte:

    PASSEIWEB; VESTIBULAR1.