segunda-feira, 4 de maio de 2015

CACAU - JORGE AMADO

Romance, 1934 | Posfácio de José de Souza Martins
             Filho de industrial, o sergipano José Cordeiro, conhecido como Cearense, não quer ser patrão: é operário e orgulha-se de sua atividade. Mas acaba despedido da fábrica por ter se relacionado com uma colega de trabalho, cobiçada também pelo patrão, seu próprio tio. Cearense decide procurar serviço em outro lugar.
                         Duas opções se apresentam: São Paulo, ou a zona cacaueira, no sul da Bahia. Cearense escolhe a segunda, a região de Itabuna e Ilhéus, como tantos outros homens e mulheres que vai conhecendo na viagem de barco rumo à região. Ali, na zona do Pirangi, na Fazenda Fraternidade, desenrola-se sua história, tendo como pano de fundo as condições de trabalho nas plantações de cacau, onde os trabalhadores são obrigados a aceitar uma situação de semi-escravidão.
               Branco, cabelos louros, alfabetizado, Cearense destoa dos demais trabalhadores e chama a atenção de Mária, filha do coronel dono da Fraternidade. A relação com a moça vai colocá-lo mais uma vez diante da possibilidade de se tornar proprietário. No entanto, Cearense se mantém firme do lado dos trabalhadores - fala mais alto sua consciência.
            Marcado pelo engajamento do autor em sua juventude, o romance conquista pela combinação de crítica social, narrativa de cunho biográfico e retrato de época e lugar.
             “Li Cacau pela primeira vez no começo da adolescência: foi por seu intermédio que descobri então poder a literatura ser, mais que veículo de entretenimento, uma via privilegiada de descoberta do mundo; no caso, especificamente, da realidade brasileira.” - José Paulo Paes
            Segundo livro de Jorge Amado - depois de O país do Carnaval -, Cacau assume o olhar do trabalhador nas relações sociais: é narrado em primeira pessoa pelo protagonista, Cearense. Esse ponto de vista é reflexo do engajamento ideológico do autor na época, evidenciado desde a epígrafe: “Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia. Será um romance proletário?”.
             As marcas de uma literatura socialista ou de um romance proletário fizeram com que o livro fosse visto, em seu tempo, como subversivo. A primeira edição, de 2 mil exemplares, esgotou-se em um mês, depois de um incidente com a censura: a tiragem foi apreendida pela polícia, mas liberada no dia seguinte, graças à intervenção do então ministro do Exterior, Oswaldo Aranha.
‘            Além dos ecos da militância comunista de Jorge Amado, o romance remete à infância do autor. Comerciante sergipano, seu pai tornou-se proprietário de terras na região do cacau. O livro inaugura a série de panoramas sobre a vida na região cacaueira de Ilhéus, da qual fazem parte também Terras do sem-fim e São Jorge dos Ilhéus. Traduzido para o espanhol em 1935, Cacau foi o primeiro livro de Jorge Amado a ser publicado em outro idioma.
                        Além de um romance, Cacau é um livro de doutrina. Conhecemos com a leitura do livro, a miséria da população cacaueira, o comportamentos dos mesmos, assim como suas rotinas árduas e penosas. Denuncia, levemente, os sistemas sociais que prevaleciam já nas mentes dos proletários, e critica os exploradores, responsáveis, desde cedo, pelas desigualdades.
                                               Lucas Câmara Assis, Belo Horizonte/, 09/01/2011


                        Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
                        Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.
                        Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.
                        Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento se deu na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangy. Entretanto, é certo que Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna.
                        No ano seguinte ao de seu nascimento, uma praga de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus, onde viveu a maior parte da infância, que lhe serviu de inspiração para vários romances. Foi para o Rio de Janeiro, então capital da república, para estudar na Faculdade de Direito da então Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante a década de 1930, a faculdade era um polo de discussões políticas e de arte, tendo ali travado seus primeiros contatos com o movimento comunista organizado.

                        Foi jornalista, e envolveu-se com a política ideológica, tornando-se comunista, como muitos de sua geração. São temas constantes em suas obras os problemas e injustiças sociais, o folclore, a política, crenças e tradições, e a sensualidade do povo brasileiro, contribuindo assim para a divulgação deste aspecto do mesmo. Suas obras são umas das mais significativas da moderna ficção brasileira, com 49 livros, propondo uma literatura voltada para as raízes nacionais. Em 1945, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que lhe rendeu fortes pressões políticas. Era casado com Zélia Gattai, também escritora, que o sucedeu na Academia Brasileira de Letras. Com ela teve três filhos: João Jorge, sociólogo, Paloma, e Eulália. Viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), em Paris (1948 a 1950) e em Praga (1951 a 1952). Escritor profissional, viveu exclusivamente dos direitos autorais dos seus livros. Na década de 1990, porém, viveu forte tensão e expectativa de um grande baque nas economias pessoais, com a falência do Banco Econômico, onde tinha suas economias. Não chegou porém a perder suas economias, já que o banco acabou socorrido pelo Proer, controvertido programa governamental de auxílio a instituições financeiras em dificuldades. O drama pessoal de Jorge Amado chegou a ser utilizado pelo lobby que defendia a intervenção no banco, para garantir os ativos dos seus correntistas.