Romance,
1934 | Posfácio de José de Souza Martins
Filho de industrial, o sergipano
José Cordeiro, conhecido como Cearense, não quer ser patrão: é operário e
orgulha-se de sua atividade. Mas acaba despedido da fábrica por ter se
relacionado com uma colega de trabalho, cobiçada também pelo patrão, seu
próprio tio. Cearense decide procurar serviço em outro lugar.
Duas opções se
apresentam: São Paulo, ou a zona cacaueira, no sul da Bahia. Cearense escolhe a
segunda, a região de Itabuna e Ilhéus, como tantos outros homens e mulheres que
vai conhecendo na viagem de barco rumo à região. Ali, na zona do Pirangi, na
Fazenda Fraternidade, desenrola-se sua história, tendo como pano de fundo as
condições de trabalho nas plantações de cacau, onde os trabalhadores são
obrigados a aceitar uma situação de semi-escravidão.
Branco, cabelos louros, alfabetizado, Cearense destoa dos demais trabalhadores e chama a atenção de Mária, filha do coronel dono da Fraternidade. A relação com a moça vai colocá-lo mais uma vez diante da possibilidade de se tornar proprietário. No entanto, Cearense se mantém firme do lado dos trabalhadores - fala mais alto sua consciência.
Branco, cabelos louros, alfabetizado, Cearense destoa dos demais trabalhadores e chama a atenção de Mária, filha do coronel dono da Fraternidade. A relação com a moça vai colocá-lo mais uma vez diante da possibilidade de se tornar proprietário. No entanto, Cearense se mantém firme do lado dos trabalhadores - fala mais alto sua consciência.
Marcado pelo engajamento do autor em
sua juventude, o romance conquista pela combinação de crítica social, narrativa
de cunho biográfico e retrato de época e lugar.
“Li Cacau pela primeira
vez no começo da adolescência: foi por seu intermédio que descobri então poder
a literatura ser, mais que veículo de entretenimento, uma via privilegiada de
descoberta do mundo; no caso, especificamente, da realidade brasileira.” - José
Paulo Paes
Segundo livro de Jorge Amado - depois
de O país do Carnaval -, Cacau assume o olhar do trabalhador nas relações sociais: é narrado em
primeira pessoa pelo protagonista, Cearense. Esse ponto de vista é reflexo do
engajamento ideológico do autor na época, evidenciado desde a epígrafe: “Tentei
contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade,
a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia. Será um romance
proletário?”.
As marcas de uma literatura socialista ou de um romance proletário fizeram com que o livro fosse visto, em seu tempo, como subversivo. A primeira edição, de 2 mil exemplares, esgotou-se em um mês, depois de um incidente com a censura: a tiragem foi apreendida pela polícia, mas liberada no dia seguinte, graças à intervenção do então ministro do Exterior, Oswaldo Aranha.
As marcas de uma literatura socialista ou de um romance proletário fizeram com que o livro fosse visto, em seu tempo, como subversivo. A primeira edição, de 2 mil exemplares, esgotou-se em um mês, depois de um incidente com a censura: a tiragem foi apreendida pela polícia, mas liberada no dia seguinte, graças à intervenção do então ministro do Exterior, Oswaldo Aranha.
‘ Além dos ecos da militância
comunista de Jorge Amado, o romance remete à infância do autor. Comerciante
sergipano, seu pai tornou-se proprietário de terras na região do cacau. O livro
inaugura a série de panoramas sobre a vida na região cacaueira de Ilhéus, da
qual fazem parte também Terras do sem-fim
e São Jorge
dos Ilhéus. Traduzido para o espanhol
em 1935, Cacau
foi o primeiro livro de Jorge Amado a ser publicado em outro idioma.
Além
de um romance, Cacau é um livro de doutrina. Conhecemos com a leitura do livro,
a miséria da população cacaueira, o comportamentos dos mesmos, assim como suas rotinas
árduas e penosas. Denuncia, levemente, os sistemas sociais que prevaleciam já
nas mentes dos proletários, e critica os exploradores, responsáveis, desde
cedo, pelas desigualdades.
Lucas Câmara Assis, Belo Horizonte/, 09/01/2011
Lucas Câmara Assis, Belo Horizonte/, 09/01/2011
Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna,
10 de agosto
de 1912
— Salvador, 6 de agosto
de 2001)
foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de
todos os tempos.
Ele é o autor mais
adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos
como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra
são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de
Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão,
além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros
foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille
e em fitas gravadas para cegos.
Amado foi superado, em
número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance
ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser
reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.
Existem dúvidas sobre o
exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu
nascimento se deu na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus.
Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe,
com a emancipação do distrito ilheense de Pirangy. Entretanto, é certo que
Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna.
No ano seguinte ao de
seu nascimento, uma praga de varíola obriga a família a deixar a fazenda
e se estabelecer em Ilhéus, onde viveu a maior parte da infância,
que lhe serviu de inspiração para vários romances.
Foi para o Rio de Janeiro, então capital da
república, para estudar na Faculdade de Direito da então Universidade do Rio de
Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Durante a década de
1930, a faculdade era um polo de discussões políticas e de arte,
tendo ali travado seus primeiros contatos com o movimento comunista
organizado.
Foi jornalista,
e envolveu-se com a política ideológica, tornando-se comunista,
como muitos de sua geração. São temas constantes em suas obras os problemas e
injustiças sociais, o folclore, a política,
crenças e tradições, e a sensualidade do povo brasileiro, contribuindo assim
para a divulgação deste aspecto do mesmo. Suas obras são umas das mais
significativas da moderna ficção brasileira, com 49 livros, propondo uma
literatura voltada para as raízes nacionais. Em 1945, foi eleito deputado
federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que
lhe rendeu fortes pressões políticas. Era casado com Zélia Gattai,
também escritora, que o sucedeu na Academia Brasileira de Letras. Com ela
teve três filhos: João Jorge, sociólogo, Paloma, e Eulália. Viveu exilado na Argentina
e no Uruguai
(1941 a 1942), em Paris
(1948 a 1950) e em Praga
(1951 a 1952). Escritor profissional, viveu exclusivamente dos direitos
autorais dos seus livros. Na década de
1990, porém, viveu forte tensão e expectativa de um grande baque nas
economias pessoais, com a falência do Banco
Econômico, onde tinha suas economias. Não chegou porém a perder suas
economias, já que o banco acabou socorrido pelo Proer, controvertido
programa governamental de auxílio a instituições financeiras em dificuldades. O
drama pessoal de Jorge Amado chegou a ser utilizado pelo lobby que
defendia a intervenção no banco, para garantir os ativos dos seus correntistas.